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Os últimos momentos de Adolf Hitler



Os últimos momentos de Adolf Hitler

Por Frederic Sondern, Jr.

Três semanas depois do colapso da Alemanha nazista, em 1945, o major Ivan Nikitine, chefe da Polícia de Segurança Soviética, declarou em Berlim que o Führer não se havia suicidado no seu abrigo subterrâneo nem tampouco tinha sido cremado ali por perto, como em geral se supunha -  persistindo até mesmo uma grande dúvida quanto ao seu falecimento.

O Serviço de Informações do General Eisenhower determinou, em 1945, um meticuloso inquérito de que resultou, graças às atividades coordenadas de técnicos norte-americanos, ingleses e franceses, a reconstituição gradual e pormenorizada dos últimos dias de Hitler. Capturadas pelas forças aliadas ocidentais, as 28 pessoas mais chegadas ao Führer durante a Batalha de Berlim foram submetidas a rigoroso interrogatório, tendo sido verificadas e confrontadas as suas declarações. Estudaram-se também verdadeiras montanhas de documentos. Foi possível, assim, aos Aliados, completar a sua versão dos derradeiros momentos do ditador alemão.

Aproximadamente às 14h30 de 30 de abril de 1945, Adolf Hitler sentou-se ao lado da sua esposa no 'Führerbunker' subterrâneo, introduziu na boca o cano de uma automática Walther e puxou o gatilho, enquanto Eva Hitler trincava entre os dentes uma ampola de cianureto. Às 22h30, o pouco que restava de seus corpos -  repetidamente embebidas em gasolina e queimados no jardim da Chancelaria - foi enterrado pelo General Rattenhuber, com a ajuda de um destacamento de guardas de elite. Durante a noite inteira, uma barragem de artilharia das linhas russas revolveu toda a área em redor. Atirados ao léu, os ossos do ditador tiveram a mesma sorte do seu tão sonhado Reich milenar.

Essa versão, entretanto, não agradou a Moscou. As autoridades russas procuraram por todos os meios ao seu alcance obstar as investigações dos Aliados. Valiosas testemunhas capturadas pelos soviéticos, inclusive o general Rattenhuber, desapareceram. O Serviço de Informações norte-americano teve conhecimento de que um maxilar encontrado por investigadores russos no local da cremação fôra definitivamente identificado como sendo de Hitler pelos dois especialistas que lhe fizeram os dentes postiços. O maxilar e os técnicos foram prontamente enviados para Moscou, e nunca mais se teve notícia deles.

O próprio Stalin estabeleceu a atitude russa oficial ao surpreender o Presidente Truman e o Secretário de Estado Byrnes, na Conferência de Potsdam, com a observação de que acreditava que Hitler estivesse vivo e homiziado na Espanha ou na Argentina. Os jornais russos referem-se constantemente ao "misterioso desaparecimento" de Hitler.

Certos analistas da propaganda russa, em Washington, acreditam que tenha sido intenção de Stálin conservar Hitler "vivo" como pretexto para uma futura intervenção na Europa. Já outros acham que o relato daqueles terríveis e derradeiros dias em Berlim -  quando um tirano louco tentou arrastar à ruína, consigo, a nação inteira -  constituiria leitura pouco salutar para o povo russo.

Era o dia do aniversário do Führer -  20 de abril de 1945. No Führerbunker, 10 m abaixo do solo, sob o jardim da Chancelaria, os chefes das Forças Armadas Alemãs e do partido nazista haviam se reunido a fim de cumprimentar o Senhor Supremo da Guerra. Rebrilhavam as botas reduziam as condecorações, mas quase todos os rostos se apresentavam macilentos e seus olhos, ardentes. Os dizimados exércitos alemães estavam recuando em todas as frentes. Os russos ameaçavam Berlim e os norte-americanos, tendo atravessado o Elba, aproximavam-se cada vez mais das tropas vermelhas.

Desde que escapara, por um triz, 10 meses antes, à conspiração do generais e o atentado da bomba da pasta, Hitler ficara transformado, de repente, num velho alquebrado e corcunda, manco de um pé, e com visível tremor no braço esquerdo. Mas, quando os que o cortejarão formularão as congratulações genetlíacas que lhes ocorreram no momento, sua voz incisiva e seus olhos brilhantes mostraram-se os mesmos de sempre.

Durante a conferência que se realizou em seguida, aqueles sápatras mal podiam acreditar no que ouviam. E hesitante, o Marechal-de-Campo Wilhelm Keitel tentou salientar a gravidade da situação, mas Hitler empurrou-o para o lado, cheio de impaciência. "Tolices!", bramiu. "Os russos sofrerão, diante das portas inexpugnáveis de Berlim, a sua mais sangrenta derrota em toda a guerra. Em seguida, rechaçaremos os Aliados até o mar". O olhar mesmérico passeava por sobre os presentes, que se mantinham imóveis.

O Reichsmarshall Hermann Goering desfez o encanto durante apenas alguns minutos. Era inevitável o triunfo da Alemanha, disse o corpulento chefe da outrora poderosa Luftwaffe, mas haveria muito mais segurança para o Führer se dirigisse as suas tropas  instalado no reduto montanhoso de Berchtesgarden. Hitler esbugalhou os olhos. "O que você está de fato sugerindo a sua partida para um lugar mais seguro", retorquiu ele. "Pode seguir, não faça cerimônia". Mudo como uma pedra, Goering fez continência com o seu bastão de marechal cravejado de gemas e retirou-se da sala. Minutos depois, um comboio de velozes caminhões transportando preciosa carga seguiu o seu Mercedes blindado em demanda da Baviera e - pensava ele - da segurança. Tendo voltado seus mapas, Hitler expunha planos estratégicos de emergência. "Sabia muito bem", declarou mais tarde um velho general, "que a maior parte das divisões com que ele manobrava no papel já não constituíam unidades efetivas. Mas o simples fato de ouvi-lo dava a quase impressão de que talvez ainda houvesse uma oportunidade". 

Havia, no 'Fuehrerbunker', naquele dia, um homem capaz de dissipar a histeria provocada por Hitler -  um homem precipuamente interessado no bem-estar do seu povo. Albert Speer, Ministro dos Armamentos, evidenciara-se, ao cenário do Reich, como seu brilhante cérebro industrial, responsável pela repetida produção do que parecia impossível em matéria de canhões, tanques e aviões.

Nos primeiros dias de março, Speer descobrira o terrível plano de Hitler para o aniquilamento do Reich, na eventualidade de uma derrota. Tinham sido expedidas ordens minuciosas a todos os chefes distritais do Partido no sentido de providenciarem a destruição, à medida que as tropas aliadas avançassem, de todas as fábricas de vulto, grandes instalações de utilidade pública, minas e estoques de alimentos e vestuário. Os militares receberam ordem de mandar pelos ares todas as pontes importantes, instalações ferroviárias, canais, navios e locomotivas. Percorrendo o país inteiro com a celeridade do vento, que conseguiu persuadir os principais 'gauleiters' e generais a suspenderem a execução das determinações de Hitler. E agora aproveitava o aniversário do Führer como uma ótimo oportunidade para um último apelo. "O fracasso do povo alemão", disse-lhe Hitler, olhando-o friamente, "demonstrava cabalmente a sua absoluta falta de valor moral. E um povo sem fibra merece ser destruído".

Speer tomou, então, a resolução de sabotar aquele plano de holocausto, ainda que com o sacrifício de sua própria vida. Arriscando-se a sentir sobre os ombros, a qualquer momento, a mão da Gestapo, novamente saiu a percorrer a Alemanha com a rapidez de um foguete. Em Hamburgo, o Gauleiter Karl Kaufmann prometeu-lhe que o importante porto não seria demolido. Vários outros chefes assumiram, nervosamente, compromissos idênticos. A fim de desarmar os fanáticos, Speer ordenou que todo o estoque de explosivo fora de mão os militares fosse depositado no fundo dos poços e das galerias inundadas das minas. Essa simples ordem salvou muita centenas de importantes instalações industriais.

Nesse meio tempo, Hitler havia completado laboriosos planos para expulsar os russos de Berlim. A contra-ofensiva seria dirigida por um dos seus comandantes prediletos da Guarda de Elite - o General Felix Steiner, das tropas SS. "O oficial que dispensar um único homem que seja de tomar parte nesta operação  - berrou  Hitler através do telefone - perderá a vida dentro de 5 horas".

Na tarde de 22 de abril, o Führer anunciou ao seu Estado-Maior a primeira vitória da nova campanha. Heinrich Himmler, chefe sabujo das SS, tinha comunicado pelo telefone que a ofensiva de Steiner estava em pleno procedimento e que as tropas e homens estavam recuando de Berlim. Diversas mensagens foram então colocadas, uma após a outra, diante do chefe de operações, General Alfred Jodl. Este passou vários minutos sem saber o que dizer. Foi quando Hitler notou o seu embaraço. "Vamos, quais são as novidades?", perguntou. "Mein Führer", respondeu Jodl, "Steiner não atacou. Recebi a comunicação de que as tropas blindadas do marechal Zhukov já se encontram em Belim".

Hitler parecia fitar o infinito, enquanto o seu rosto foi lentamente transformando numa máscara arroxeada. "As SS", murmurou. "Fui traído pelas SS! Primeiro o Exército, depois a Luftwaffe, e agora as SS". Sua voz tornou-se trovejante. "Vocês são todos uns traidores! Uma corja de cães traidores!"

Durante 3 horas, Hitler deu expansão à sua fúria. A força da sua personalidade era tão devastadora quando se desencadeava, que os próprios generais Keitel e Jodl, tão pouco impressionáveis, se sentiram "espremidos contra a parede", conforme um deles mais tarde confessou. Finalmente, Hitler cambaleou de volta ao seu lugar. "O Terceiro Reich fracassou", balbuciou com voz cavernosa. "Não me resta senão morrer. Permanecerei aqui até o fim e depois meterei uma bala nos miolos. Faltam-nos meios para continuar lutando. Mande Goering negociar com os Aliados".





Filme: A Queda


As palavras do Führer foram transmitidas ao Marechal Goering que, em virtude de uma lei promulgada em 1941, devia ser o sucessor de  Hitler. O gordo sibarita tinha certeza de que lhe seria possível conseguir dos Aliados suaves condições de paz, obtendo ele próprio, na pior das hipóteses, um exílio ameno e confortável. Assim pensando, telegrafou a Hitler:

"Mein Füehrer – tendo em vista a vossa decisão, concordareis que eu assuma o controle total do Reich? Se não receber uma resposta até às 10 horas da noite de hoje, interpretarei o vosso silêncio como um assentimento tácito à minha proposta".

Goering aumentou para 1000 homens a sua guarda pessoal e anunciou ao seu Estado-Maior a intenção que tinha de voar, no dia seguinte, ao encontro do General Eisenhower. Mas, num momento em que redigia uma mensagem ao Supremo Comandante norte-americano, chegou às suas mãos o seguinte telegrama:

"Goering - O que você fez reclama a pena de morte. Não levarei, entretanto, a coisa avante, desde que você peça demissão de suas funções. Caso contrário, tomarei as necessárias medidas. Adolf Hitler."

Goering relia, incredulamente, as palavras do Führer, quando as botas de um pelotão das SS feriram as lajes da calçada. O Herr Reichsmarshall recebeu ordem de prisão. Hitler não tencionava ser sucedido por ninguém.

Uma hora depois da sua dramática despedida no Führerbunker Hitler já estava traçando planos para a maior ilha funerária da história. Calmo e preciso, ordenou a volta para a capital do XII Exército, do General Wenck, empenhado em combate com os norte-americanos. Ao mesmo tempo todos os homens e meninos de Berlim deveriam partir para as barricadas a fim de conter o avanço russo. Os desertores seriam sumariamente enforcados.

Ao tomar conhecimento da ordem, o Gauleiter Wegener, encarregado dos negócios civis do Norte da Alemanha, e de longa data um dedicado membro do Partido, procurou comunicar-se telefonicamente com Hitler. Seu o Führer ao menos autorizasse a rendição, no Oeste, aos norte-americanos e britânicos, argumentou ele, os russos poderiam ser contidos até que se firmar um armistício, com o que evitaria muita devastação. "Devastação, Wegener", retrucou Hitler, "é justamente o que eu quero. Uma fulgurante moldura para o meu fim". No dia seguinte, 25 de abril, os russos tinham completado o cerco de Berlim.

E é difícil descrever a capital da Alemanha tal como a encontramos em princípio de maio de 1945. Não muito longe da Chancelaria do Reich, demos com um monte de escombros por trás do qual se ocultara algo semelhante a trouxas de roupa velha. Mas aquelas trouxas tinham constituído a guarnição de uma metralhadora. O mais velho, que ainda se achava recurvado sobre a sua arma, podia ter, no máximo uns 15 anos. Nas pontes do Wannsee, empilhavam-se os cadáveres de 600 meninos que haviam tentado conter o avanço russo com granadas de mão. Em outros setores da cidade, pendiam dos postes de luz elétrica, rapazinhos da Juventude Hitlerista e membros idosos da Guarda Civil, surpreendidos pelos homens das SS quando abandonavam os seus postos.

No Führerbunker, havia diminuído, durante os 7 últimos dias, o número de pessoas que faziam companhia ao ditador nazista. Goebells e a esposa tinham trazido o seu 5 filhos, que mais tarde assassinaram, suicidando-se em seguida. Martin Bormann, braço direito de Hitler no campo da política, preferira ficar. Eva Braun, que foi durante tantos anos a amante secreta do  Führer, recusou-se a partir. Nos 2 compartimentos de aço e concreto contíguos ao de Hitler achavam-se 26 oficiais de alta patente e 30 secretários e guardas.

Quando os petardos dos canhões russos começaram a cair mais perto, abalando o reduto, "foram pouco a pouco perdendo a cabeça". A bebida corria como água, e os emproados generais prussianos, despindo as suas túnicas, punham-se a dançar loucamente com as estenógrafas.

Quanto a Hitler, concentrava-se nos seus mapas e realizava conferência. Ocorrendo-lhe que os russos talvez pudessem avançar por uma ramificação da linha do trem subterrânea de Berlim que passava não muito longe da Chancelaria, ordenou ao seu chefe de Estado-Maior que inundasse do túnel. "Mein Führer",  protestou o general Krebs, "há milhares de feridos abrigados no interior desse túnel..." Hitler interrompeu-o com um rugido: "Inunde o túnel!". Minutos depois, já as válvulas estavam sendo abertas.

Finalmente, no dia 28 de abril, um despacho de imprensa vindo de Estocolmo trouxe ao Führer a notícia de que Heinrich Himmler - chefe das SS -  estava negociando, com o Conde Bernadotte, a rendição do Reich aos Aliados. Era demais: "E agora até o leal Heirich!", exclamou Hitler dolorosamente. Mas desta vez o acesso de cólera - o último de sua vida - durou pouco tempo. Caindo em si, tornou-se subitamente calmo e inteiriçado. A traição de Himmler destruía todas as possibilidades de resistência. Era o fim que se aproximava.

Os 2 últimos dias no Führerbunker foram os mais estranhos de todos. As primeiras horas da manhã 29 de abril, Hitler e Eva Braun casaram-se, numa cerimônia curta e simples, enquanto os projéteis russos penetravam na Chancelaria, quase sobre as suas cabeças, provocando uma chuva de estuque que se desprendia do teto do compartimento. O Führer ditou, então, à secretária, o seu "testamento político". O documento não encerra nada que ele não tivesse dito muitas vezes antes. Riscando Goering e Himmler dos quadros do Partido, designou o Almirante Karl Döenitz para substituí-lo.

Mais tarde, leu ele, no resumo das notícias que, como de costume, lhe trouxeram, a descrição minuciosa da morte de Mussolini ante um pelotão de fuzilamento dos partigiani, e a exibição pública do seu corpo, bem como o de Clara Petacci, pendurados ambos pelos pés numa praça de Milão. Hitler já havia expedido instruções no sentido de que o seu corpo e o de Eva fossem totalmente destruídos após o suicídio, mas à àquela altura achou conveniente reiterá-las. "Completamente destruídos, estão compreendendo? Completamente".

No decorrer da conferência de praxe com seu Estado-Maior, realizado naquela tarde, o Führer recebeu tranquilamente a comunicação do avanço russo. A Chancelaria seria diretamente atacada, o mais tarde até 1º. de maio. "Se é assim, não nos resta muito tempo", observou ele. "Os russos não me devem apanhar vivo, aconteça o que acontecer".

Quando a noite ia adiantada foram todos convidados por um ordenança a comparecer à sala principal. O Führer desejava despedir-se. Uma vez reunidos, Hitler apertou a mão, em silêncio, cada um dos presentes. "Tinha os olhos vidrados", disse uma testemunha, "e já parecia alheio ao que lhe ia ao redor".

Terminada a cerimônia, manifestou-se a anarquia na cantina da fortaleza. Alguém apanhou uma garrafa, e subindo numa das mesas, gritou: "Bebamos aos mortos!" Um outro pôs a vitrola a funcionar. A dança, cada vez mais infrene e estreptosa, só terminou quando o sol já ia alto. De vez em quando, vinha do Führerbunker uma ordem de silêncio, mas ninguém lhe dava importância.

Às duas horas do dia 30 de abril, Hitler almoçou como de costume. Mostrava-se pálido e calado, mas cheio de apetite. Em seguida, dirigiu-se em companhia da esposa, ao corredor principal, onde Bormann, Goebells e os ajudante-de-ordens mais graduados os esperavam. Após trocar, silencioso, apertos de mão, voltaram para o seus aposentos. Fechada a porta com um baque, plantou-ses diante dela um dos guardas pessoais do Führer. Segundos depois, ouviu-se um estampido. Estava extinto o Reich, que surgira para durar 1000 anos.



Fonte: 
Segunda Guerra Mundial - Ultra-secreto (Seleções do Reader's Digest - Ed. Ypiranga S.A. - 1963 - impresso no Brasil)

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